
O desfecho de uma das séries mais marcantes da Netflix
Depois de três temporadas de tensão extrema, violência gráfica e dilemas morais, Round 6 chegou ao fim — e o encerramento não poderia ser mais sombrio e provocador. Ainda que o criador da série, Hwang Dong-hyuk, tenha antecipado que o final não seria feliz, o impacto dos últimos minutos do episódio final pegou muitos espectadores de surpresa.
Um final amargo e ideologicamente poderoso
A decisão de Hwang em encerrar a série com uma nota trágica não foi casual. O próprio diretor revelou que passou por momentos de estresse tão intenso durante a produção que chegou a perder oito dentes. A escolha por um desfecho sombrio refletiu seu desejo de manter a coerência temática da obra: um retrato brutal da desigualdade e da natureza humana.
No entanto, dentro do universo moral distorcido da série, o sacrifício de Gi-hun representou um tipo de redenção. Ao se matar para que uma recém-nascida — introduzida de forma inesperada como jogadora numerada — pudesse sobreviver e receber o prêmio milionário, Gi-hun encontrou uma forma de reparar sua culpa como pai ausente. Ele se tornou não apenas protetor da criança, mas também seu benfeitor.
Conflito entre visões de mundo: Gi-hun versus o Front Man
Além da dimensão emocional, o desfecho ofereceu uma vitória ideológica sobre o Front Man, figura central do sistema por trás dos jogos. Durante as duas últimas temporadas, os dois se confrontaram em uma batalha filosófica: Gi-hun acreditava na bondade humana e na solidariedade, enquanto o Front Man defendia a tese de que todos são egoístas e violentos por natureza.
A escolha de Gi-hun — abrir mão da própria vida por uma criança indefesa — abalou profundamente o Front Man. Após o fim dos jogos, ele decide resgatar o bebê e entregá-lo a pessoas confiáveis, garantindo a ela uma vida com riqueza e segurança. Mais do que isso, leva os pertences de Gi-hun à filha dele, nos Estados Unidos, em um gesto que transmite arrependimento e respeito. Ao final, é possível dizer que os “bonzinhos” venceram. Há, sim, esperança para a humanidade.
Alívio e encerramento para o criador da série
Em entrevista ao USA TODAY, Hwang Dong-hyuk confessou sentir-se finalmente livre após encerrar a produção da série mais vista da história da Netflix. “Tive muitos pensamentos pesados enquanto escrevia. Mais do que tristeza, hoje sinto alívio por me ver livre dessa pressão”, afirmou. Com isso, Hwang indicou que, ao menos por sua parte, a história de Round 6 está concluída.
A série pode continuar sem Hwang? Os sinais são claros
Mesmo com o encerramento da jornada de seu criador, Round 6 ainda pode seguir em outras direções. O último episódio deixa pistas evidentes de que os jogos continuam acontecendo fora da Coreia do Sul. Em uma cena ambientada em um beco de Los Angeles, vemos um novo recrutador jogando “ddakji” com uma vítima desavisada — e o papel é interpretado por ninguém menos que a vencedora do Oscar Cate Blanchett.
A escolha de uma estrela de Hollywood para essa participação especial não passou despercebida e pode indicar planos da Netflix de expandir o universo da série para outros países. Embora não haja confirmação oficial de uma quarta temporada ou spin-off, o potencial de continuação é evidente.
Expansão global e novos rumos possíveis
Caso a série avance, é provável que ela explore novas geografias e contextos sociais, mantendo o mesmo formato cruel dos jogos infantis transformados em desafios mortais por dinheiro. O foco pode mudar, mas a crítica ao sistema e à desigualdade deverá permanecer como eixo central da narrativa.