
Nos últimos anos, cientistas vêm observando um aumento significativo na velocidade de deslocamento dos polos magnéticos da Terra. Segundo o físico Ofer Cohen, em declaração ao Science Alert, essa velocidade saltou de 16 para 54 quilômetros por ano. Esse comportamento pode indicar uma possível inversão dos polos magnéticos, um fenômeno no qual o polo norte magnético trocaria de posição com o polo sul, enquanto os polos geográficos permaneceriam inalterados. A possibilidade dessa inversão é estudada, entre outros métodos, por meio da análise da idade do magma expelido por vulcões subaquáticos.
As rochas formadas por atividade vulcânica registram não só a direção dos polos magnéticos, mas também a intensidade do campo magnético terrestre no passado. No entanto, para comprovar uma inversão desse tipo, os especialistas afirmam que seria necessário um registro de pelo menos dois séculos de dados.
O campo magnético da Terra é criado pelo movimento do núcleo externo do planeta, composto principalmente por ferro e níquel em estado líquido. Conforme destaca Luiz Benyosef, pesquisador do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Observatório Nacional (ON), esse campo magnético atua como uma barreira natural que nos protege dos efeitos da radiação cósmica e dos ventos solares, além de permitir o surgimento de fenômenos como as auroras polares.
Variações do campo magnético ao redor do planeta
Em entrevista ao programa Olhar Digital News, Benyosef explicou que o campo magnético terrestre não é uniforme. Existem regiões com valores mais baixos, conhecidas como anomalias magnéticas. Um exemplo é a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AAS), tema frequente na imprensa brasileira. “No Brasil, essa anomalia se destaca por apresentar um campo magnético relativamente fraco, o que pode trazer pequenos problemas tecnológicos. Áreas com menor intensidade magnética são mais suscetíveis à entrada de partículas carregadas provenientes do Sol”, ressalta o pesquisador.
Sobre a possibilidade de inversão dos polos, Benyosef compara o planeta a uma gigantesca bússola. “A Terra funciona como um grande ímã. A bússola aponta para o norte devido à existência de um campo magnético, semelhante a um dipolo no interior do planeta. Esse dipolo sofre variações ao longo do tempo e, em escalas geológicas, pode inverter sua polaridade”, afirma.
Segundo ele, essas alterações têm origem no núcleo externo da Terra. “Com o passar do tempo, o núcleo sofre modificações que podem levar à inversão dos polos magnéticos. Em outras palavras, o polo magnético atualmente orientado para o norte já esteve, no passado geológico, em direção oposta. Essas inversões fazem parte dos ciclos naturais do planeta”, completa.
Devemos nos preocupar com uma inversão dos polos magnéticos?
Afinal, é motivo de preocupação? Para Benyosef, não há motivo para alarde. “Esse processo ocorre em escalas de milhões de anos, muito além da duração da vida humana”, tranquiliza. Durante uma eventual transição, o campo magnético poderia enfraquecer temporariamente, tornando a Terra mais exposta à radiação cósmica, mas não se espera que tal fenômeno cause impactos imediatos para a sociedade.
Apesar do deslocamento acelerado dos polos já ser observado atualmente, é improvável que qualquer pessoa viva hoje presencie uma inversão completa dos polos magnéticos. Conforme Cohen, podem ocorrer alguns efeitos menores decorrentes dessa movimentação, porém, é pouco provável que haja grandes prejuízos, como apagões tecnológicos globais.
A comunidade científica destaca a importância do acompanhamento contínuo dessas mudanças para entender melhor como elas podem afetar a vida no planeta e garantir que a humanidade esteja preparada para possíveis impactos futuros.